Mussiro: o segredo das macuas
O mussiro (ou n’siro) é uma caule de uma árvore do mesmo nome (cientificamente conhecido por Olax dissitiflora), que é usado para tratamentos estéticos em Moçambique. O seu uso é comum nas províncias do norte.
No Norte do país, mais concretamente na província de Nampula, as mulheres da etnia macua utilizam o mussiro para enfeitar os seus rostos em datas festivas.
É também muito usado para tratar acne e remover manchas na pele, pois o seu efeito é bastante eficaz e e deixa a pele do rosto macia.
Além disso, é também usado para combater as rugas e o envelhecimento da pele. Estima-se que este seja usado pelas mulheres macuas há mais de 100 anos.
Os homens também se sujeitam a aplicação do mussiro, devido às suas propriedades terapêuticas.
Estudos confirmam que esta planta tem propriedades anti-oleosidade, o que contribui para combater fungos e bactérias que podem se instalar na pele, causando diversos problemas.
Preparação do creme do mussiro
O mussiro é colhido nas matas, especificamente por homens. Eles cortam o caule do mussiro e descascam-no, recorrendo à uma catana.
Depois, este é entregue às mulheres que preparam o creme com auxílio de uma pedra lisa e de água. O caule é raspado contra a pedra, previamente humedecida com água. Eventualmente, acrescenta-se a água no ponto de esmagamento para aumentar a quantidade do creme.
Quando se tem uma quantidade suficiente para aplicar no rosto, junta-se o creme e aplica-se no rosto, modelando-o conforme a vontade da mulher.
O comércio do mussiro
O mussiro pode ser comercializado na forma de caule sem casca, e na forma de pó, armazenado em plásticos ou tigelas. Hoje em dia, é possível comprar o mussiro em qualquer província do país, embora as vezes seja um pouco difícil de encontrar nalguns pontos. Mas é garantido que nunca está em falta na província de Nampula, Cidades de Maputo e Matola e Cidade da Beira e Chimoio.
Alguns empresários e empreendedores já se arriscaram a fazer misturas artesanais de mussiro com outros elementos e comercializam a mistura em forma de cremes, sabões, esfoliantes e elixires.
Tradição do mussiro
No interior das casas, o mussiro era pintado as mulheres virgens. Para demonstrar que a mulher é virgem, pintava-se o rosto até ficar completamente branco. De igual forma, com as mulheres casadas o mussiro era pintado no rosto quando o marido estivesse ausente.
Quando a mulher se envolvia com um homem, namoro e posteriormente casamento, deixava de cobrir completamente o rosto com o mussiro. Ainda assim, faziam-se pinturas, cobrindo parcialmente o seu rosto quando ela passasse por algum ritual, tal como o da preparação do casamento.
Por outro lado, era também usado para desenhar figuras ou formas no rosto, que indicavam um estado de espírito, podendo ser de luto ou de felicidade.
Nos dias actuais, o mussiro pode ser usado por mulheres de qualquer canto do país e do mundo. Tendo sido deixadas para trás as tradições do uso do mussiro devido a globalização, já quase ninguém tem conhecimento do significado dos tipos de pintura do mussiro.
Entretanto, não se deixou a pratica de se vestir de capulana quando se aplica o mussiro no rosto, sendo esta a parte da tradição que se manteve em centenas de anos.